Debate: Que mudanças programáticas tem que fazer o Partido Socialista?
Um Novo Ciclo. Este é o meu objectivo para o Partido Socialista. Um projecto que pretendo liderar no PS, em permanente ligação com os militantes e também com as pessoas, movimentos sociais e organizações que não optaram pela militância partidária, mas que têm opinião e querem colaborar na elaboração de uma proposta política alternativa à actual maioria de direita.
O Novo Ciclo dirige-se a todas as pessoas e representa uma nova forma de fazer política no PS e em Portugal. Uma política formulada com as pessoas e para as pessoas. As pessoas são o centro da nossa acção política. Política com ética e transparência que saiba reconquistar a confiança dos portugueses através do exemplo e do exercício das virtudes republicanas.
Promoverei um amplo debate nacional (de Setembro a Março, próximos) sobre a melhor forma de organização e funcionamento do PS. Ambiciono um PS renovado, moderno, de modo a beneficiar da inteligência e das capacidades de cada um dos seus militantes e que, ao mesmo tempo, se abra aos cidadãos que se identificam com os valores e o ideário da esquerda democrática. O PS é o espaço natural da esquerda democrática. Mas não ficaremos à espera que as pessoas venham até nós. Queremos fazer política junto das pessoas, ouvindo a suas preocupações. Essa é uma das principais funções de um partido de esquerda, em particular em momentos de crise social como a que actualmente atravessamos. Ouvir os militantes e alargar os seus direitos (opinião e escolha dos candidatos a cargos públicos) de participação das decisões da vida interna do PS é uma das prioridades do Novo Ciclo.
O Novo Ciclo pretende alterar métodos, conceitos e, também, protagonistas da mudança. Uma das reflexões, seguramente das mais importantes, é no quadro programático. Há um núcleo de valores que considero imutável e que tem a ver com a nossa matriz fundacional: liberdade, igualdade de oportunidades, justiça social e solidariedade.
Inspirados, e em coerência com estes valores, devemos procurar, sem complexos nem tabus, novas soluções para os nossos principais problemas, nomeadamente: elevado desemprego, fraco crescimento económico, financiamento sustentável do Estado de bem-estar (educação, saúde, investimento e protecção social) e desigualdades sociais.
A busca destas novas soluções exige, também, um olhar diferente sobre a Europa. O PS tem que estar na primeira linha do debate sobre a construção europeia. Deve trabalhar para pôr fim à ambiguidade que a tem caracterizado e proceder a uma clarificação sobre a natureza do seu projecto. Esse projecto só será viável se dotarmos a Europa de uma governação política e económica. Disse-o e repito: se assim não proceder, a Europa definhará.
O socialismo democrático deve saber afirmar-se com coerência num mundo globalizado. Considero que há, aliás, duas constatações que devem servir de ponto de reflexão à nossa acção: a actual crise originou milhões de pobres e desempregados e é unânime a apreciação de que a responsabilidade dessa crise é dos mercados, sem regulação. Mas, quando os vários países escolhem os governantes, optam pelos defensores do neoliberalismo, os apóstolos do sistema de mercado. Porquê? Quais os motivos por que a social-democracia perde peso para os populismos (de esquerda e direita) e para os liberais? Afinal, após o desencadear da crise, não foi para o Estado que as sociedades olharam como tábua de salvação?
Segunda constatação: a social-democracia aposta numa sociedade mais justa e coesa. Os políticos liberais apostam no individualismo, no cada um por si. Será que há uma profunda mutação nos valores das sociedades mais desenvolvidas, onde valores como solidariedade e justiça social exigem uma nova conceptualização? Ou, na verdade, apesar de se afirmarem como sociais-democratas, muitos governos terminaram os seus mandatos com mais desigualdade social?
Como se percebe, não vai ser tarefa fácil a descoberta deste caminho programático. No entanto, é meu desejo que se faça de forma aberta e sem dogmas.
Uma outra alteração que está na génese do Novo Ciclo é o papel da sociedade. É urgente terminar com o conformismo. As pessoas têm de ser mais intervenientes, participativas e libertarem-se de tutelas ou receios. Liberdade de pensar, criar e agir. Na política, nas empresas, nas universidades… Libertar energia para quebrar uma cultura seguidista, conformada e que oscila entre a euforia e o derrotismo.
Com o desencadear das eleições internas no PS, tenho lido muitas reflexões de militantes e simpatizantes nas redes sociais e nos blogues. Opiniões interessantes e, algumas delas, polémicas, com troca permanente de comentários. É neste espírito, de forma dinâmica e com o respeito pela diferença, que, espero, o PS se transforme, também ele, numa plataforma aberta, congregadora de debates, reflexões e propostas. De todos e para todos.
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